domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Natureza Incomoda

O professor Mike Cohen mora, sempre que pode, ao ar livre na Costa Leste dos Estados Unidos. Ele é autor de vários livros e dedicou sua vida a pregar o que ele e outros batizaram de ecopsicologia. A natureza como terapia. Não há misticismo. É ver a natureza como ela é. Sem nome.

Para ele a Natureza é NIAL – Nameless, Inteligence, Attraction, Love ( Sem nome, inteligência, atração, amor). Com sua ecologia ele prega a ligação do homem. A conexão do homem com a Natureza. Homem e Natureza são a mesma coisa. Mas o homem se auto-separou dela. Inventou “histórias” - ou estórias? – nas quais crêem.

São histórias fabricadas pelo novo cérebro – o hemisfério pensante do cérebro em oposição àquele hemisfério primitivo do cérebro, o córtex. Na re-ligação ou ligação - ele propõe o uso deste cérebro primitivo. O baú onde estão guardadas as recordações sem palavra, os instintos, as lembranças arquetípicas, nosso passado, do tempo em que nosso cérebro tinha muito de réptil. Entregar-se a este estado de ligação pode significar saúde. É livrar-se das “estórias” que a cultura foi tão hábil em criar. Façamos uma rápida viagem através de nosso processo de criação de “estórias”.

A Viagem

O homem, em algum momento de sua história, decidiu livrar-se da Natureza. Empenhou-se em criar um mundo independente. A descoberta do fogo foi um passo importante para a criação dessa natureza humana independente da Natureza. Com o fogo, foi possível ter conforto, aquecer-se, cozer o alimento, caçar com o fogo (a origem de nosso hábito de queimadas). Não era mais necessário, como destaca Patrick Rivers, esperar pelo verão para aquecer-se, ou esperar o sol para esquentar-se.

A agricultura, foi outro passo muito importante para a construção de nosso novo e artificial “nicho”. Um lugar aconchegante feito pelo homem. Com a agricultura já não era necessário vagar pelas florestas coletando frutinhas, coquinhos. Podiamos produzir comida. Armazená-la. Trocá-la. Pudemos afastar a fome. Podíamos desafiar a escassez da Natureza, criando um excedente. Aprendemos a forçar a Natureza, como diz o professor Ubiratan D’Ambrósio, a produzir o que ela não queria.

A domesticação de animais foi outro grande passo. A dieta foi enriquecida. Não dependíamos mais da caça. Podíamos criar, engordar, cevar o nosso alimento. Foram a agricultura e a domesticação de animais que nos possibilitou caminhar para a civilização – vida civil, aglomerado de pessoas, instituições, cultura, religião, ciência. No meio do caminho criamos a escrita, a mitologia, a elite pensante, o sacerdócio, a economia, exércitos. Tudo resultado de três criações humanas: fogueira, agricultura, domesticação de animais que levou ao excedente de produção – o início da economia.

Descobrimos muitas coisas: aprimoramos linguagem, criamos a persuasão, alfabetos, silabários e ideogramas. Deles vieram o sacerdócio, a burocracia, a dominação cultural. Mas foi com a ciência que conseguimos mostrar nossa capacidade excepcional de domar a Natureza.

Livrarmo-nos de vez de seu domínio. Robert Kurtz filósofo alemão destaca, nessa nossa luta, o propósito metódico de criarmos uma segunda Natureza. A agricultura, a domesticação de animais foram provas de nosso sucesso. Mas nada foi maior, na criação de uma segunda natureza, que a descoberta da fusão do átomo. A energia atômica foi nossa declaração de independência da Natureza.

Para produzir energia não necessitaríamos mas das fontes energéticas da Natureza – aquelas que entregam com pouco esforço, não modificadas –a água dos rios, o sol, o vento. A arrancamos do átomo. Desintegramos a matéria para consegui-la. Conseguimos de maneira violenta o que necessitávamos.

Kurtz nos vê de volta no processo de humilhar a Natureza mais uma vez e usando-a como matéria prima. Extraímos dela o código que nos permite passar agora para mais uma natureza à imagem do homem. Uma terceira natureza. É a vez da biogenética. Vamos construir uma nova humanidade –pouco a pouco.

Na área agrícola, será nosso segundo grito de independência da Natureza. Na área social, será a vez de criar uma nova humanidade. Podemos ver entrar em cena uma sociedade à imagem do homem, uma elite geneticamente escolhida de pessoas geneticamente mudadas. Uma nova humanidade geneticamente modificada viverá com uma maioria de originais, excluídos. Será o fim? Teremos atingido nossa liberdade?

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